Dias de luta, dias de luto Link para o cabeçalho

“Podem me tirar tudo que tenho, só não podem me tirar as coisas boas que eu já fiz pra quem eu amo”

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“Podem me tirar tudo que tenho, só não podem me tirar as coisas boas que eu já fiz pra quem eu amo” Link para o cabeçalho

Estou me sentindo envenenada nesses dias. E aos poucos, vou intercalando entre o eu interior que quer se isolar, colocar uma animação boba para assistir, só dormir e chorar, e o eu que quer (re)agir, quer lutar, quer deixar de reclamar da sociedade injusta sem trabalhar para que ela melhore.

O problema é que esse eu que luta e reage está cada dia mais distante. Ele chega até mim, vê como está caótico, como cada notícia ultrapassa a anterior e toma espaço na minha mente, e simplesmente sai, pois não existe alimento, energia, para que eu consiga deixá-lo comigo.

Sei que precisamos de momentos detox, de momentos onde você vai silenciar todas as redes sociais, vai lá brincar com seu bichinho, fazer um prato gostoso na cozinha, dar risada (mesmo remotamente) com quem você ama. Mas logo começo a pensar: e quem não tem cozinha, ou não tem comida? E quem não tem casa? E quem tá sozinho, sem ter como conversar? Como ficam essas pessoas? Como o mundo pode ser tão errado ao nível que essas coisas e todas as outras monstruosidades existam, e sejam consideradas normais?

O normal é o que mais me assusta. Desigualdades são normalizadas, um plano eugenista é normalizado. E por mais que falem isso, não, a maioria das pessoas não acha isso ok - mas foram forçadas à este tipo de normalidade (espero).

Alguns indivíduos, agarrados à alguma fé, crença ou dogma (nessa necessidade de pertencimento a um grupo também), abraçam as ideias mais incorretas e imorais (pensando na moral cristã, tão balbuciada por aí), trazendo-as para o coração da manada que fazem parte. Outros indivíduos simplesmente estão anestesiados, cansados de se indignar, só querem boletos pagos no final do mês, conseguir aquela cirurgia marcada no SUS meses atrás, conseguir botar comida no prato, não morrer pela COVID-19.

Esse é o solo perfeito. Perfeito para que ideias incoerentes e incorretas sejam divulgadas, registradas, legisladas, aprovadas, implantadas. Instituições foram fragmentadas, as coisas não estão funcionando corretamente. E esse caos todo é aprovado por aquela base fiel (aproximadamente 30% das pessoas desse país, né?), ignorado por quem quer manter a saúde mental boa, e vivido por todos nós.

Não acho isso normal. Mas assumo que tem dias que simplesmente me esqueço da realidade, fico mal, especialmente ao imaginar que podem me tirar as coisas boas que fiz pra quem eu amo, podem tirar as pessoas que amo. Quem não tem medo de perder avós, os pais, nesses tempos sombrios, nessa guerra? São dias de luto. Onde não sabemos quando virá a glória.

Só sabemos que ela chegará. Que em algum dia, veremos novamente um mundo cheio de amor, de alegria. A esperança é mais forte do que o saudosismo dos dias de glória. Apesar de estar insistindo para manter esses sentimentos positivos em mim, não acredito que tudo esteja perdido, que esses tempos terríveis sejam eternos. Todas as coisas são cíclicas, e algo bom irá surgir após essa obscuridade.

Continuamos meio capengas, meio feridos, mas ainda caminhando. Hoje só consegui escrever esse texto e chorar. Amanhã conseguirei fazer uma reunião, desenhar um pouco, abraçar quem eu amo. Um dia de cada vez.

“Hoje estou feliz, acordei com o pé direito, e vou fazer de novo, vou fazer muito bem feito” Link para o cabeçalho

Gostaria de fazer um agradecimento especial ao Teo e o Minimundo, que me inspirou com essa tirinha que coloquei durante o texto, que me tocou com sua sensibilidade e delicadeza ao tratar de um momento tão difícil.

E queria fazer um agradecimento a você. Obrigada por ler esse texto. Fique bem ♥️


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